As conquistas atuais do Direito Coletivo do Trabalho são louváveis, pois quando nos propomos a analisar as condições em que viviam os trabalhadores há tempos pretéritos, concluímos que não foram poucas. Mas isso também não quer dizer que são suficientes, ainda hoje o que se vê na grande parte do mundo são pessoas vivendo em condições análogas a de escravos, pois com o salário que recebem só conseguem comer, vestir-se e talvez terem um lugar para morar. Por outro lado, existem patrões que ficam cada vez mais ricos, acumulando milhões e se esbanjando em opulência. Como aqueles que ficam orgulhosos por comprar um sorvete de mais de mil dólares, com flocos de ouro e coisas bizarras mais, enquanto uma parcela da população mundial morre sem ter o que comer. Isso não parece errado? Para a maioria do mundo não, pois se assim o achassem esta situação não mais existiria, – e podem resolver – então hoje viveríamos em um mundo onde todos teriam o que comer e onde morar. Mas isso não interessa ao sistema, as pessoas são iludidas pelos falsos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, mas ficam presas dentro de indústrias e escritórios trabalhando durante horas, e às vezes até em dois empregos, para tentar garantir um pouco de dignidade a sua vida. Não se dão conta de que sua liberdade foi tirada a muito. Aderem ao discurso burguês de igualdade, mas esquecem que somos todos diferentes, e devemos ser tratados como desiguais na medida de nossas desigualdades para chegarmos a um patamar justo. E por fim vem os que têm muito, com o ideal de fraternidade, como uma maneira de se sentirem menos desprezíveis, fazendo caridades por aqueles que exploraram. Se pensarmos bem no modelo de trabalho em que vivemos atualmente, na verdade estamos em uma era feudal evoluída, onde os grandes empresários são os senhores do feudo e os trabalhadores os camponeses, vivendo a serviço do seu senhor e tendo que pagar uma porcentagem da sua produção. Na verdade o mundo nunca mudou, só se adaptou para parecer diferente.

O sistema em que vivemos é sustentado por ilusões, e graças à globalização e ao acesso fácil de informação de qualquer parte do mundo, esse jogo ficou ainda mais fácil para quem tem o poder. Acreditar no sistema como nos é posto é como acreditar em ganhar na loteria, esse sistema vive assim, ele mostra alguns poucos que tem tudo o que a vida mundana pode oferecer – e como estes são felizes por ter aquilo – então, as demais pessoas, como os jogadores da loteria, vivem e apostam nesse sistema, acreditando que talvez um deles possa chegar lá. O que, como no jogo em pauta, não acontece, entre milhões de pessoas um é beneficiado, os outros só perdem. Se ao invés disso concentrassem seus esforços para um bem coletivo e não somente para o sucesso de um, com certeza chegariam a algum lugar. Mas o ser humano sempre foi individualista, e as chances disso mudar não são boas.

Mas considerando o sistema ao qual estamos presos, o problema jurídico é ainda maior, pois tem que se ponderar o interesse do capital e as garantias do trabalhador. O capital tem uma fome feroz, e jamais ficará saciado, o trabalhador só encontra forças para lutar por seus direito através dos sindicatos, pois de outra forma seria esmagado pelos seus empregadores. E se isso não bastasse, ainda possuem como adversário o restante da sociedade, que na maioria das vezes pouco se interessa se os motivos que levaram uma classe trabalhadora a uma greve são justos ou não, se isso os desconforta de algum modo, os grevistas terão o seu desprezo. No atual sistema não tem como só falarmos em direitos dos trabalhadores, pois do contrário perderíamos as empresas, e quando tocamos neste ponto é que chegamos à grande problemática do Direito Coletivo do Trabalho, que é a falta de uma regulamentação internacional válida que estabeleça um mínimo da mão de obra do trabalhador. Pois de nada adianta avançarmos nas garantias sociais dos trabalhadores em um país específico se ao lado elas ficam em segundo plano. De imediato o que se devia fazer no âmbito mundial era um combate a mão de obra barata, impedir que as grandes corporações se aproveitem da miséria de determinados países fixando-se um mínimo de salário, e duras sanções comerciais para aqueles países e empresas que não cumprirem. No mais, o restante teria de partir do próprio trabalhador, estes deviam tomar ciência da sua importância, pois como disse Mészáros (2004, p. 108), o capital depende do trabalho, mas o trabalho não depende do capital.

A partir disso, com uma proteção internacional do trabalho, os bravos laboradores poderiam lutar de forma efetiva por seus direitos, garantindo uma participação justa naquilo produzido por eles próprios, de modo que algum dia possamos chegar ao estado cultural evoluído onde o enriquecimento abundante seja considerado algo imoral e combatível.

“Um homem não deve ter mais do que aquilo que o seu coração pode amar” Educação Siberiana

Referência:

Mészáros, Istiván. O poder da ideologia. Tradução de Paulo Cézar Castanheira.São Paulo: Boitempo, 2004.

Fonte: http://ehmorotti.jusbrasil.com.br/artigos/179476291/o-mundo-na-sua-dimensao-ideal-e-real

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